A ação consiste em falar sobre os tipos de violência e suas consequências para os envolvidos
No mês de setembro, a prevenção ao suicídio e o estímulo à escuta qualificada são amplamente divulgadas, mas onde procurar? Como dar o primeiro passo? A professora de Educação Física Rayssa de Souza levou o projeto “Saúde na escola: educação básica em contexto amazônico” para os alunos da Escola Estadual Tiradentes, para esclarecer essas e outras dúvidas. “Os jovens não têm resiliência e a escola deve ser esse ambiente de acolhimento e educação para a liberdade como cita Paulo Freire”, destaca.
As atividades são voltadas aos alunos dos ensinos Fundamental (anos finais) e Médio. Elas visam promover conversas sobre os tipos de violência, o que a lei diz, gravidez na adolescência, saúde mental e psicoeducação sobre emoções, depressão, ansiedade, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), dentre outros temas.
Os encontros contam com a participação de membros do Programa de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Amazonas (PPGSC-UEA), Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) e do Humaniza Coletivo Feminista, entre outras parcerias com psicólogos, médicos, enfermeiros e educadores físicos, além de profissionais de Educação Física da escola.
A docente diz que a iniciativa veio da própria experiência e da vontade de empoderar outras mulheres. “Sou independente, mestranda, nem por isso estive imune de atos violentos contra a mulher. Sobrevivi. Quero ajudar outras mulheres, alunas, mães a sobreviverem também. A educação é a solução”, cita.
O espaço aberto pelo projeto – que iniciou com o Agosto Lilás, quando as ações de prevenção da violência contra a mulher são intensificadas – virou um ambiente seguro, no qual os estudantes conseguem compartilhar experiências e dar apoio uns aos outros.
“Hoje, me tornei referência na escola, para minhas alunas que se identificaram com minha história. Já haviam sofrido vários tipos de violências e não sabiam o que fazer, quem procurar e acabaram desabafando comigo. Na palestra, choraram, outras mais em particular. Mas o importante foi elas terem tido a coragem de ‘gritar’, falar que nós, mulheres, estamos cansadas. A educação é nossa alternativa”, relata Rayssa.
Lugar seguro – Ana Júlia Rocha, de 15 anos, é aluna do 9º ano. Ela participou dos debates e aprendeu mais sobre empatia. A jovem criou um perfil em uma rede social para falar sobre suas percepções.
“Foi incrivelmente necessário, tem muitas pessoas que estão passando por vários problemas e saber que não estão sozinhas conforta o coração delas, sempre falo do Senhor e das pessoas que Deus capacitou. Eu até criei um perfil sobre meus pensamentos e falei sobre Setembro Amarelo. Trabalhei minha compaixão com o próximo e presto mais atenção em meus amigos”, avalia a estudante.
Rayssa, por sua vez, enxerga no diálogo sobre os temas uma forma de ampliar ainda mais a educação no ensino público e o respeito entre todos que frequentam as escolas.
“No Amazonas, o número de jovens que tentam o suicídio está aumentando. As mulheres do Norte são as que mais morrem de feminicídio, as negras também. Eu tenho 28 anos. Não tomei uma vacina que me imunizasse de tudo isso. A violência física, psicológica e simbólica me levou a tentar suicídio. Me salvei pela educação de outras pessoas que me entenderam e me prestaram socorro. Espero que mais pessoas tenham essa consciência”, finaliza a professora.