O boi-bumbá Caprichoso encerrou a terceira e última noite do 56⁰ Festival Folclórico de Parintins, saindo da arena do Bumbódromo de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) nas primeiras horas da madrugada desta segunda-feira (03/07).
Na arena, o Touro Negro defendeu a temática “Revolução: a consagração pelo saber popular”, terceiro ato que compõe o tema “O Brado do Povo Guerreiro”, defendido pelo bumbá azul e branco em 2023.
Nesta terceira parte, o brado do Caprichoso reclamou os “saberes e fazeres” dos povos da Amazônia expressos na cultura popular, bradando que, enquanto houver opressão, haverá resistência e que o saber popular deve ser usado como arma contra a intolerância, os racismos, os preconceitos e repressões de toda a sorte.
O bumbá levou à arena quatro alegorias com altura média de 22 metros, além dos módulos levados por guindaste à encenação folclórica, que potencializam a altura das alegorias.
O 56º Festival Folclórico de Parintins é promovido pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Neste ano, o evento foca em três pilares: cultura, turismo e sustentabilidade.
Despedida
A última noite do festival também representou a última apresentação do Caprichoso sob o comando do presidente Jender Lobato, cujo mandato se encerra em 2023, após a prorrogação por mais um ano decidida em assembleia geral da agremiação folclórica.
No final da tarde deste domingo, durante a passagem de som do bumbá azul e branco, Jender se despediu oficialmente da Galera, sendo ovacionado pelos torcedores do Caprichoso.
“É um aperto muito grande no peito. Está chegando ao fim um ciclo no qual nós começamos um projeto de reorganização do Caprichoso. E, ao mesmo tempo, conseguimos deixar o Caprichoso num patamar que a galera se apaixonou. Sou muito grato a Deus e à nação azul e branca por reconhecer o trabalho que a gente fez”, afirmou Jender Lobato.
O presidente declarou que seu projeto incluiu proteger o boi e prepará-lo para as gerações futuras. Jender também se disse confiante na vitória. “A gente sai, se Deus quiser, com a vitória e com o sentimento de dever cumprido. Tudo o que era possível fazer a gente fez. Não foi tudo perfeito, mas eu tenho certeza que a nação azul e branca, que me ama demais e que eu amo demais, sabe o trabalho que a gente fez. Que Deus possa nos abençoar e que a gente possa ser bicampeão”, disse.
Paixão pela Marujada
Tocador de surdo na Marujada de Guerra do Caprichoso, Michael da Silva Oliveira veio de Manaus para conhecer o boi, apaixonou-se e nunca mais saiu de Parintins. “Toco surdo na Marujada há 12 anos. E é meu maior orgulho fechar a noite hoje com chave de ouro e deixar nossa galera na pressão do começo ao fim”, afirma o marujeiro apaixonado.
Para ele, tocar na Marujada é uma sensação que todos deveriam sentir. “Tocar na Marujada de Guerra é muito especial. É uma emoção que eu nunca senti na minha vida. Sou de Manaus e vim para cá há 12 anos para visitar. Quando eu vi o boi Caprichoso, me apaixonei e até hoje não voltei mais para Manaus e nem quero voltar. Quero morrer e ser enterrado aqui nesta terra”, diz.
Estreante no Bumbódromo, a também manauara Kelly Prestanza estava na galera do Caprichoso e se diz torcedora do bumbá “desde que se entende por gente”. “É a primeira vez que eu venho. Sempre assisti pela televisão, mas agora me apaixonei e vou vir, com certeza, várias vezes”, disse. Kelly também estava certa da vitória, “O Caprichoso está incrível e, com certeza vai ser campeão”, disse, confiante.
Caprichoso
O Boi-Bumbá Caprichoso foi fundado em 1913, pelas mãos de famílias nordestinas, Cid e Gonzaga. A brincadeira que nasceu nos quintais das casas com versos de saudação e enaltecimento, nas vozes dos fundadores, logo se transformou em desafios fortes para o contrário.
O bumbá ganhou as ruas da cidade e incorporou as tradições locais. As pessoas passavam, mas o Caprichoso não, sendo recebido por um novo dono, uma nova família que, tradicionalmente, tornava-se a guardiã do boi, responsável por organizar as saídas do boi nas ruas de Parintins.
A agremiação folclórica é responsável pelo projeto social Fundação Boi-Bumbá Caprichoso, denominado Escola de Artes Irmão Miguel de Pascalle, para crianças e adolescentes que exercitam e desenvolvem o potencial intelectual e artístico nas oficinas de artes, dando um retorno à comunidade e ao festival. Fundada em 1998, a escola já revelou mais de 5.500 artistas que podem ser vistos nos galpões, no conselho de arte, na dança, na música e em todos os segmentos.
FOTOS: Alez Pazuello/Secom