O produtor José Antônio Borghi, de 62 anos, agrônomo e que cultiva 500 hectares de soja em Maringá, no norte do Paraná, nunca tinha presenciado uma seca tão forte. “Faz 50 anos que planto soja com a minha família e não vi nada parecido.” Foram cerca de 80 dias, desde fins de novembro, praticamente sem chuvas e com temperaturas extremamente altas. “As plantas foram morrendo”, conta.
Ele, que preside o Sindicato de Produtores Rurais de Maringá, diz que em algumas regiões as perdas chegaram a 100% das lavouras. No seu caso, a quebra na produtividade foi de 75%. A sua previsão era conseguir 60 sacas de soja de 60 quilos por hectare, mas vai tirar apenas 15 sacas.© Ivan Amorim/ Estadão José Antônio Borghi, produtor rural e presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Maringá; apesar de ter feito seguro rural, ele não acredita que todas as perdas serão ressarcidas
Por causa dos bons preços da soja, que praticamente dobraram em reais, a maioria dos produtores da região investiu pesado nesta safra. Borghi, por exemplo, gastou mais recursos na adubação, correção de solo e usou um coquetel de produtos no tratamento da semente para obter a maior produtividade possível. No entanto, o investimento foi perdido em razão da falta de água.
Por sorte, Borghi não tinha vendido antecipadamente a safra, como é costume de boa parte dos produtores. Também ele tinha feito seguro de toda a produção. “A minha expectativa é que o seguro cubra o prejuízo”, diz. Mas o produtor não acredita que todas as perdas serão ressarcidas. “Sempre sobram contas para pagar.”
Depois da frustração, Borghi está cauteloso com o plantio da segunda safra de milho, que será semeada no lugar da soja. O planejamento inicial era plantar 300 hectares com milho safrinha, mas ele diz que vai semear um terço da área.
É que, com o atraso do ciclo de produção da soja por causa da seca, a colheita do que restou da safra foi adiada. Logo, Borghi não vai conseguir plantar o milho dentro do melhor período, no qual ele pode contar com o crédito rural e o seguro agrícola.
Chuvas
Enquanto o produtor do Paraná sente no bolso os efeitos da estiagem, Jailson Lira de Paiva, que há 22 anos cultiva 40 hectares de uva de mesa em Petrolina (PE), no Vale do Rio São Francisco, enfrenta uma realidade completamente diferente.
Desde 20 de outubro, um mês antes do habitualmente previsto, o período de chuvas começou em Petrolina. Neste ano, já choveu mais de 500 milímetros em algumas áreas e o normal é em torno de 450 milímetros o ano inteiro. Na semana passada, fazia 15 dias que as chuvas tinham parado na região, mas a previsão era de fortes precipitações para esta semana, contou o produtor.
Paiva, que é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (PE) e diretor da Coopexvale, estima perda de 80% da safra de uva de mesa da região. A cooperativa, que reúne 29 produtores, hoje praticamente não tem fruta para vender tanto para o mercado interno como para exportação.
O produtor, que esperava colher um milhão de toneladas de uva de mesa nesta safra, calcula que vai tirar entre 500 mil e 600 mil toneladas. E a quebra na produção, segundo ele, já começou a se refletir nos preços. “Mas não há resultados positivos para o produtor porque os volumes colhidos são muito pequenos e, mesmo com as cotações elevadas, não é possível recuperar as perdas.”
Normalmente os produtores de uva da região não fazem seguro das lavouras de frutas e terão de arcar com os prejuízos, especialmente ampliando o gasto com inseticidas e fungicidas para evitar doenças provocadas pela umidade excessiva. A saída para o produtor, diz Paiva, é continuar cuidando da plantação, fazendo a poda , na expectativa de que o tempo ajude e a produção se normalize a partir de junho.
( Com Informações: Estadão )