Jogadores com resultado negativo podem estar no período de incubação do coronavírus, lembram especialistas. Autoridades sanitárias fecham Estádio Monumental.
Por Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro
Com o “surto” de casos de coronavírus no Flamengo, especialistas em infectologia alertam para o perigo da realização da partida contra o Barcelona de Guayaquil nesta terça-feira, pela fase de grupos da Libertadores – as autoridades sanitárias equatorianas proibiram o Estádio Monumental de receber a partida em função disso.
Ao todo, o Flamengo identificou nove casos positivos de Covid-19 nas vésperas da partida: sete jogadores e dois membros do departamento de futebol. O ge conversou com três especialistas, que foram unânimes ao afirmar que os testes RT-PCR que fazem parte do protocolo de segurança da Conmebol não são capazes de assegurar a ausência do vírus em campo, especialmente em episódios como esse.
Conmebol e Flamengo foram procurados, mas não se posicionaram até o fechamento desta reportagem.
Veja o que dizem os especialistas:
Celso Ferreira Ramos Filho, professor da UFRJ e membro titular da Academia Nacional de Medicina
“O nome do que ocorre no Flamengo é surto. É o caso de um grupo num espaço fechado que está em contato próximo, evidentemente que frequentam as mesmas instalações, foram no mesmo avião para o Equador e estão transmitindo o vírus entre si. O nome disso é surto.
O risco de contaminação na partida existe. Primeiro que o teste PCR, por melhor que seja, não é 100% confiável. Ele não garante com certeza absoluta que a pessoa tenha o vírus e nem garante que ela não tenha. É mais fácil haver um falso negativo do que um falso positivo, no entanto. Mas pode ter pessoas que fazem o teste sem o resultado positivo porque ainda não teve tempo de o vírus de manifestar, está no período de incubação. Isso sem sombra de dúvidas é possível. Não temos como afirmar que 100% das pessoas que vão a campo não têm o vírus, até porque a medicina não é uma ciência exata. É perfeitamente possível que haja jogadores infectados.
Eles vão jogar ao ar livre, perfeito. Num terreno grande, sem dúvida. Mas estão se aglomerando, ainda que rapidamente. Isso não é tênis, onde o jogador fica do outro lado da rede e o que fica pulando para lá e para cá é a bolinha. Eles estão se tocando, se agrupando em torno da bola, gritando, respirando fundo e aumentando teoricamente a possibilidade de transmissão do vírus. Mas o jogo também não pode ser considerado uma atividade de alto risco, provavelmente esse risco é muito maior dentro do vestiário, no transporte e dentro do grupo do Flamengo do que com relação aos adversários”.
Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro
“É um absurdo (esse jogo acontecer). Deveria ser suspendo. Não há como garantir que outros jogadores não estejam contaminados porque o exame não é 100%. Se todo mundo com o exame negativo fosse negativo, poderia ser. Mas não é assim. Quem dá positivo é positivo, mas quem dá negativo a gente não pode assegurar que seja realmente negativo.
Você já correu? Você não respira muito mais rápido? Não elimina muito mais secreção, muito mais suor do que eliminaria numa situação normal? Todo esporte que envolve corrida aumenta a eliminação de secreção”.
Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia
“É claro que existe alguma chance de contaminação dos outros jogadores, eles podem estar num período de incubação do vírus. Todos foram testados, e esses negativos teoricamente não estão transmitindo, embora sempre exista o risco do falso positivo. Mas esse protocolo é o que está sendo utilizado tanto pela CBF quanto pela Conmebol de testagem dos jogadores pré-jogo e liberação daqueles que são negativos. A gente não tem visto nos pós-jogos, mesmo quando tem jogador testando positivo após o jogo, uma transmissão para o outro time. O que a gente tem visto é a transmissão entre o mesmo time, como aconteceu agora com o Flamengo e como já aconteceu com o Goiás.
Aparentemente o risco de transmissão no jogo é pequeno, como vem sendo observado nas últimas semanas no Brasil. Obviamente que, quando há um surto tão grande assim num único time, onde estão todos juntos, concentrados no mesmo hotel, no mesmo avião, sempre vai existir o risco de casos acontecendo posteriormente nesse time.
Em relação a suspender o jogo, teoricamente seria mais seguro. Mas isso é um protocolo da própria Conmebol, é uma discussão entre clubes e dirigentes. Por segurança, o ideal seria realmente suspender o jogo”.
Foto: Divulgação / Flamengo
(Com informações do GE).