Tanto a greve de roteiristas membros da Writers Guild of America (WGA) quanto a dos atores e atrizes de Hollywood, que integram o sindicato SAG-AFTRA, trazem alguns pontos em comum nas demandas. Além da regulamentação do uso de inteligência artificial (IA) nas produções e reajustes salariais, ambos os grupos trazem como pedido o pagamento dos chamados residuals.
Em condições normais, devem ser acertados entre estúdio e equipe, podendo se transformar em uma receita significativa para membros de um filme ou seriado de sucesso. O mercado atual, entretanto, funciona de uma nova maneira que desagrada as categorias.
Se você está por fora de como funcionam os pagamentos residuais, que estão movimentando a greve no setor de entretenimento, entenda o seu significado e importância a seguir!
O que são pagamentos residuais?
Os pagamentos residuais, também chamados de direitos conexos no Brasil, são pagamentos realizados para os integrantes de uma equipe de filmes, séries ou programas de televisão toda vez que o conteúdo é exibido novamente depois do seu lançamento inicial.
Isso acontece no caso de reprises, renovações contratuais ou mudanças para outro canal, por exemplo. A cada substituição ou reexibição, um benefício financeiro deve ser pago para quem possui essa cláusula no contrato.
Esse tipo de pagamento, que são como royalties de outros setores corporativos, também é feito levando em conta a venda em mídias físicas (do VHS ao Blu-ray). A exibição internacional ou o próprio desempenho nas bilheterias também pode afetar o pagamento.
O cálculo de porcentagem e quem tem direito aos direitos conexos depende de negociações entre estúdios e sindicatos de cada categoria. Esse tipo de acordo começou nos anos 1960, quando outra greve de atores e roteiristas resultou na criação do benefício.
Por que os residuais são um problema?
Décadas atrás, os pagamentos residuais eram respeitados na íntegra por estúdios e canais no caso de reprises na televisão ou comercialização de mídia física. Com isso, atores e atrizes de séries famosas ganharam notoriedade por “viverem” dos residuals de produções que participaram.
Seriados de grande sucesso e dos mais variados gêneros, como Friends, Arquivo X ou Lost, geraram uma verba considerável para os envolvidos, seja por reprises ou trocas de canais. A chegada do streaming no mercado, entretanto, mudou toda a forma de cálculo e pagamento desses direitos conexos.
Friends é uma das séries de maior sucesso no mundo.Fonte: Warner Bros.
As plataformas de streaming tendem a pagar um valor menor de residuais no geral, além de não respeitarem acordos maiores por popularidade. Com isso, um seriado de sucesso não resulta em tantos adicionais para a equipe na Netflix quanto geraria se acontecesse o mesmo em uma emissora tradicional, como a ABC, por exemplo.
Os serviços de streaming mudaram os pagamentos residuais.
O grande problema envolvendo os pagamentos residuais é que a maior parte das produções atuais é voltada para os meios digitais ou entra depois para algum catálogo. Com isso, mesmo produções com receitas enormes para as empresas podem resultar em pagamentos pequenos e nada proporcionais para a equipe.
Orange is the New Black.Fonte: Netflix
Kimiko Glenn, a Brook Soso de Orange is the New Black, compartilhou nas redes sociais que ganhou menos de US$ 30 de royalties internacionais pelo seriado. A produção está desde 2013 no catálogo da Netflix e acumulou indicações e prêmios ao longo de suas sete temporadas no Emmy e no Globo de Ouro.
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A compensação equilibrada de acordo com o sucesso do programa e um pagamento compatível com a quantidade de pessoas atingidas pela chegada de um filme ou seriado no streaming é uma das principais demandas dos sindicatos de roteiristas e atores.
Entretanto, ao menos por enquanto, não há uma previsão para que as negociações cheguem ao fim com a recusa de estúdios e serviços de atender a todas as solicitações.