Ricardo Prasel parou de jogar por uma lesão crônica no quadril; Lutador pretende seguir em evento polonês e praticamente descarta o UFC: “Eu estando bem aqui, não trocaria o KSW”
O ex-goleiro e atual peso-pesado Ricardo Prasel estreou no evento polonês de MMA KSW (Konfrontacja Sztuk Walki) no último sábado, em Radom, contra o polonês Michal Kita. O brasileiro, que chegou a lutar no Contender Series e por pouco não entrou no UFC, venceu por nocaute no segundo round em uma reviravolta, depois de quase ter sido nocauteado no round inicial. Em entrevista exclusiva ao Combate, ele falou da atmosfera na arena lotada em sua estreia no torneio, mesmo com a torcida contra.
– Com certeza foi casa cheia pro cara. O MMA nunca é normal lotado assim. Sempre comento que o MMA veio como um bônus na minha vida. Quando encerrei a carreira no futebol não imaginava ser atleta novamente, chegar num evento grande. Comecei a lutar jiu-jitsu com meu irmão e as coisas foram começando a desenrolar, e consegui chegar a uns bons eventos. O MMA em si, lutando no Brasil, já acho uma coisa muito massa, que mexe com a adrenalina. Agora aqui na Polônia, num evento grande com casa lotada, a torcida toda do adversário. A adrenalina foi inexplicável.
Ricardo detalhou toda a dificuldade que passou durante os seus tempos de futebol. Uma lesão na cabeça do fêmur, denominada bursite crônica no quadril, foi o principal motivo para o encerramento da carreira. Mas o lutador não guarda mágoas e descreve a passagem pelo Chelsea como mágica. Ele aproveitou para esclarecer que a contusão não o atrapalha na luta e que esta é uma das maiores dúvidas que o público lhe questiona.
– Eu passei pelo Chelsea e foi uma coisa mágica e inesquecível na minha vida. Lutar agora no KSW me marcou também. O Chelsea no futebol foi o meu ápice, rodeado de estrelas. Eu era um menino no meio daqueles caras. Depois ainda fui para a Bélgica por dois anos, e foi onde agravou o problema. A bursite crônica que eu tive no quadril foi o principal fator para eu parar.. Me incomodava muito. Fiquei muito tempo sem jogar na Bélgica, e voltei para o Brasil. Aqui tentei manter a forma física e treinar em uns clubes no Paraná para voltar a jogar, mas acabei indo para o Atlético de Madri. Teve um treino com o time B em um campo sintético onde me lesionei. É um campo muito pesado e eu era alto, acabava dando muito impacto no quadril. Comecei a desanimar mesmo. Do Chelsea fui para clubes da segunda divisão do Paraná só para manter em forma, e depois, quando tive a oportunidade na elite novamente, eu nem conseguia treinar. Aquilo me desmotivou muito e eu optei por parar.
– Sobre a luta, é algo que todos comentam pela lesão e tudo mais. Meu problema foi na cabeça do fêmur, uma região onde o goleiro cai muito em cima e recebe muito impacto. Já no MMA recebo poucos golpes no local e tenho a possibilidade de treinar só o jogo de cima no dia seguinte. A lesão nunca me atrapalhou na luta – comentou.
![Ex-goleiro do Chelsea migra para o MMA e vibra com vitória 2 Ricardo Prasel no Chelsea — Foto: Arquivo Pessoal](https://s2.glbimg.com/TmVnMRu3DfpsIcixod9KAf5EJGo=/0x0:690x470/984x0/smart/filters:strip_icc()/s.glbimg.com/es/ge/f/original/2017/08/28/montagem-prasel-1.png)
Ricardo Prasel no Chelsea — Foto: Arquivo Pessoal
O lutador, que chegou na Polônia na semana passada, falou sobre o clima da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ele estava em Varsóvia, que fica a cerca de 394km da cidade de Lviv, na Ucrânia, e não observou nada incomum. Também falou sobre Roman Abramovich, presidente do Chelsea na época de sua passagem, e a venda do clube.
– A gente ficou em Varsóvia e deu umas voltas pelo centro. Comentei até com meu irmão que a impressão que dá é que não está acontecendo nada. Parece que não tem nada para quem vê de fora. Tudo normal. Pessoas na rua normalmente. Nem parece que está acontecendo uma guerra aqui do lado. A única coisa que vimos foi uma parede repleta de banners pedindo fora Putin. Eu parei de jogar em 2012 e acabei me afastando do meio do futebol. Vi que o Abramovich botou o Chelsea à venda e até achei que era algo que não ia acontecer nunca. Como assim o cara está vendendo o clube? Foi um susto. É algo estranho pra mim
Prasel tem um cartel de 12 vitórias e três derrotas. Chegou a ter a possibilidade de entrar no UFC, caso vencesse no Contender Series. O brasileiro saiu derrotado por nocaute pelo americano Don´Tale Mayes e comentou a dificuldade que teve de lidar com as derrotas. Ele se sentia incomodado por tudo se decidir em uma única luta e não ter a oportunidade de mostrar o seu estilo em mais confrontos.
– Eu acho que estava 10-1 quando fui para o Contender. Foi a minha segunda derrota. Algo que sempre me incomodou muito foi que já tinha tempo que falavam que eu ia assinar com o UFC. Quando aconteceu a minha primeira derrota no Japão eu já fui demitido. Quando fui para o Contender, a mesma coisa: se ganhar vai para o UFC; se perder, não. E isso me incomodou bastante. Você só vai ter chances se vencer. Isso foi algo que me atrapalhou muito, e me travava na hora de soltar o jogo por medo de errar. No Contender foi um erro estratégico para mim, porque meu empresário e um dos meus treinadores optaram pela trocação e o meu forte era o jiu-jítsu. No UFC eles gostam mais da trocação, e no Contender não basta vencer, precisa convencer os caras que você merece entrar. Foi uma estratégia diferente do que eu fazia, e acabou “dando ruim”. No KSW agora eu subi mais tranquilo, porque sabia que teria mais oportunidades e acabei lutando melhor, com a cabeça tranquila.
O “Alemão” ficou um ano e nove meses sem lutar após a derrota no Contender. Segundo o lutador, ele estava apto, mas a dificuldade do empresário em encaixar uma luta durante a pandemia atrasou a sua carreira. Ele também quer seguir lutando no KSW e, no momento, descarta uma nova oportunidade no Contender. Já no UFC depende do contrato e da proposta, mas acredita que, se estabelecendo no país europeu, seja difícil de sair.
– Eu sou empresariado e fico esperando alguma ação dele, e foi um baita erro meu. Ficar tanto tempo sem lutar acaba perdendo o pique, e na derrota do Contender eu não tive lesão nenhuma. Poderia lutar no mês seguinte e aproveitar o embalo do treino até cobrir a derrota. A pandemia atrapalhou muito pros atletas do MMA, mas eu deveria ter feito mais lutas. Deu uma esfriada no ritmo da minha carreira.
– Eu venci a primeira luta e quero cumprir meu contrato, fazendo as quatro lutas do KSW e seguir dentro desse evento. Estou contente de estar aqui e gostei do país. Achei sensacional a cidade, e é um evento muito massa. Um show à parte. Gostaria de seguir aqui. Eu não trocaria o KSW por um Contender. Quem sabe direto para o UFC com um contrato, mas depende também da proposta. Eu estando bem aqui, não trocaria o KSW.
O lutador chegou a cogitar voltar ao futebol recentemente, mas pensou melhor e decidiu continuar no mundo das lutas. Ele afirma que, no fundo, ainda existe o desejo e a dúvida do retorno aos gramados, porém as dificuldades do passado o fazem desacreditar que daria certo e que as lesões não retornariam.
– Profissionalmente acho fora de questão voltar. Pensei em voltar em uma segunda ou terceira divisão da Europa. Tenho amigos que ainda são jogadores e um está jogando na quarta divisão da Alemanha. Ele me apresentou e me mostrou pros caras e o time queria me contratar para jogar uma temporada. Chegou a me balançar, mas não sei. Pensei na ideia, mas voltei atrás. Fiquei no MMA mesmo.
(Com informações do Combate).