Martín Mestre perdeu Nancy Mariana em janeiro de 1994; Jaime Saade, namorado da jovem na época, foi condenado a 27 anos de prisão mas passou quase três décadas foragido
Após 26 anos de buscas, Martín Mestre encontrou o assassino da filha no Brasil. O colombiano de 79 anos perdeu Nancy Mariana em janeiro de 1994, quando a jovem de 18 anos saiu de casa acompanhada do então namorado, Jaime Saade, e não retornou. No ano de 1996, Saade foi condenado a 27 anos por assassinato e estupro, mas a pena nunca foi cumprida, já que ele desapareceu. Durante quase três décadas, porém, Mestre jamais desistiu de procurá-lo.
— Desde aquele dia eu vivo em função de ele ser capturado. Não é uma obsessão, é um dever de pai — ressaltou em entrevista ao jornal El País.
Na época do crime, o pai foi até a casa de Saade ao perceber que a filha não havia retornado de uma comemoração de Ano Novo. Quando chegou ao local, se deparou com a mãe do rapaz lavando o chão da casa dele. Ela informou então que Nancy havia sofrido um acidente e sido levada para uma clínica na região.
Na unidade de saúde, o pai do rapaz informou que a filha de Mestre havia tentado cometer suicídio. A enfermeira que trabalhava no local, porém, disse que a vítima estava envolta em um lençol sujo de terra e mato e tinha sinais de violência no corpo. Ela aconselhou o pai da jovem a não aceitar aquela versão. Nancy morreu oito dias depois.
O caso foi parar na Justiça. A análise forense apontou que a jovem não havia cometido suicídio, visto que as marcas de pólvora estavam na mão oposta ao lado da têmpora onde havia um ferimento por arma de fogo. O corpo também tinha marcas nos braços, coxas e na região vaginal, além de restos de pele sob as unhas, o que indicava que a jovem tentou se defender. Na época, após o veredito, a Interpol emitiu um mandado de busca internacional contra Saade.
Mestre chegou a fazer um curso de investigação e usou quatro perfis falsos em uma rede social para rastrear pessoas que ele sabia terem alguma ligação com Saade. Apenas no fim de 2019 ele encontrou uma pista que o levava para a cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Aos poucos, descobriu não apenas que o assassino da filha vivia no local, como também que ele havia começado uma nova vida. Usando documentos falsos, se casou e teve filhos. As suspeitas foram confirmadas pela Interpol no fim de janeiro de 2020, quando foi atestado que Henrique Dos Santos Abdala na verdade era o assassino de Nancy Mariana e ele foi preso.
Para ser condenado, porém, Saade precisa ser extraditado para a Colombia. No primeiro julgamento sobre a questão no Supremo Tribunal Federal (STF), houve um empate e o acusado foi mantido no Brasil. A defesa de Mestre trabalha para a repetição do julgamento. No Brasil, porém, ações prescrevem após 20 anos, prazo que se cumpriu antes da detenção do acusado.
— A sensação que tive é que julgaram o destino do assassino da minha filha como se fosse um jogo de futebol. Chorei muito, chorei muito por esse caso, mas não me canso, nunca vou desistir. Vamos trazê-lo para a Colômbia e ele vai começar a pagar — afirmou o pai.
Na prisão, Saade deu outra versão do crime. Numa carta, escreveu que: “fui ao banheiro e depois de alguns minutos ouvi um tiro. Saí imediatamente e a vi no chão, com muito sangue e um revólver ao lado”. Ainda não há previsão de solução para o caso, mas há possibilidade de que o assassino seja penalizado no Brasil apenas por ingresso ilegal no país e falsificação de documentos.
(Com informações: O Globo).