Após bater o recorde de cheia e atingir 30,02 metros, Rio Negro já está em processo de vazante. De acordo com boletim do Serviço Geológico do Brasil, divulgado em 16 de julho, o nível do rio começou a descer de forma mais nítida na última semana, indicando um possível fim do período de enchente em toda sua calha principal. Em Manaus, o rio Negro segue em estágio de inundação severa, mas desce em média 3 centímetros por dia.
Apesar da cheia do Rio Negro ser comum nessa época do ano, os moradores foram surpreendidos com o volume de água em 2021. Gisele Rodrigues Pará, 31 anos, mora no bairro Dom Pedro, na Zona Oeste de Manaus. Ela conta como a cidade foi mais impactada pela cheia este ano.
“Parte do centro de Manaus foi atingida pelas cheias. Uma rua bem conhecida aqui como Rua dos Barés – onde fica o comércio, que atende principalmente os ribeirinhos, comercializando rações, materiais de pesca, alimentos – foi totalmente interditada.”
Segundo a moradora, todos os anos, com a cheia, são construídas pontes e passarelas de madeira, conhecidas como rip-rap, para evitar que a população entre em contato com a água contaminada com lixo e esgoto da cidade.
Os córregos afluentes do Rio Negro, conhecidos como igarapés, também transbordaram e causaram transtorno no trânsito de Manaus.
“O trecho que liga a Avenida Constantino Nery e a Avenida Djalma Batista teve que ser interditado, porque ele é cortado pelo igarapé dos Bilhares, que transbordou. No centro de Manaus, vários ônibus foram desviados e as pessoas precisam andar um pouco mais para acessar essa região, porque as linhas de ônibus, em certo momento, já não circulam nessas ruas por causa da cheia”, conta Gisele.
Bacia do Rio Negro
Os municípios localizados na calha principal do Rio Negro são São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Novo Airão e Manaus. Outras cidades são cortadas por afluentes, cujas águas desembocam no Rio Negro, como município de Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva, além de toda a bacia do Rio Branco, que abrange quase todo o estado de Roraima.
A cota máxima atingida pelo Rio Negro foi de 30,02 metros no dia 16 de junho de 2021. Segundo a pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil, Luna Gripp, a inundação generalizada nos rios da Bacia Amazônica foi provocada pelo volume de chuva acima do esperado, principalmente nos primeiros meses do ano.
“Essa chuva acumulada acima do esperado trouxe um grande volume de água para as bacias do Rio Negro e do Solimões. Quando chegou o mês de junho, o nível dos rios estava realmente muito alto e acabou trazendo todos esses problemas de inundação; não só para as bacias do Negro e do Solimões, mas também para o Amazonas, que é formado pela união dos dois rios”, explica.
Vazante
A pesquisadora esclarece que o processo de vazante é caracterizado quando o nível da água desce ao longo de vários dias. Esse intervalo é específico para cada rio. No caso do rio Negro, o processo de vazante já teve início, pois – apesar de lenta – a descida da água é constante e gradual.
“É muito provável que o rio Negro realmente comece a descer agora e não volte a subir. Essa análise é válida para a região da Amazônia Central, ou seja, Manaus e os municípios de Manacapuru, no Solimões, Itacoatiara, Parintins, Careiro da Várzea e Careiro Castanho.”
“Já em um trecho de rio mais próximo a cabeceira, quando chove, o rio volta a subir de uma hora para outra. Então, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, se houver chuva de dois, três dias seguidos – o que não é raro acontecer -, mesmo que o rio já esteja descendo alguns centímetros por dia, ele pode voltar a subir”, acrescenta Luna Gripp.
No entanto, segundo a pesquisadora, apesar do nível do rio estar diminuindo, os impactos associados à inundação continuam nos municípios, uma vez que a cheia superou o esperado para este ano e o processo de vazante é lento e gradual.
“A expectativa é que para as próximas semanas, continuemos observando o processo de inundação e todos os problemas associados, porque realmente essa descida inicial é bem lenta. A partir de um certo momento, o rio deve começar a aumentar a velocidade de descida, indo para 4, 5, 6 centímetros. Só então ele deixa de ocupar a região central da cidade e, depois de um tempo maior ainda, deixa de atingir os bairros mais afetados”, detalha.
A pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil, Luna Gripp, afirma que não é possível prever quando outra grande cheia do Rio Negro poderá acontecer novamente, já que o processo é determinado pelas chuvas.
“Estamos falando da maior bacia do mundo: a bacia do Amazonas. As chuvas relacionadas a esses processos de inundação acontecem em uma área muito grande e com uma duração de tempo também muito grande. Estamos falando de chuvas que aconteceram desde janeiro e impactaram na cheia em junho. São praticamente seis meses em que a água afeta a subida do nível dos rios.”
As previsões de cheia para a Bacia Amazônica só podem ser feitas a partir das chuvas do começo do ano, por isso, os primeiros alertas de inundações para Manaus, Manacapuru e Itacoatiara são emitidos ao final do mês de março pelo Serviço Geológico do Brasil.
Apesar de não ser possível prever as grandes cheias, Luna Gripp afirma que esse fenômeno tem sido cada vez mais frequentes nos últimos anos.
“Nós tínhamos grandes cheias na Amazônia a cada 50 anos. Na última década, esse intervalo diminuiu muito. Já observamos cheias em vários anos seguidos, afetando especialmente a população ribeirinha. A tendência é que tenhamos cada vez mais processos de inundação severa, inclusive em locais onde o município é afetado como um todo.”
( Com Informações: Brasil 61 )